Caixa publica norma que permite contratação irrestrita de terceirizados
Para especialista, a norma publicada pela Caixa Econômica Federal coloca em xeque novos concursos públicos
04/08/2017 17:00 | Atualização: 04/08/2017 18:34
Hellen Leite/ Lorena Pacheco /
A
norma RH 037 está alinhada com a nova legislação trabalhista e com a
Lei 13.429/2017, aprovada pelo Senado em julho passado. Mas, de acordo
com Max Kolbe, advogado responsável por diversas ações judiciais movidas
por aprovados no último concurso da Caixa, a norma fere os princípios
do acesso ao cargo público.
"A
Caixa Econômica é integrante da administração pública indireta. Assim,
deve respeito ao Artigo 37 da Constituição Federal, no qual um dos
princípios é o de acesso ao cargo público por meio de concurso público.
Se a Caixa é obrigada a realizar concurso, ela não poderia terceirizar a
atividade fim, ainda que uma lei permita que ela assim o faça, sob pena
de inconstitucionalidade", argumenta o advogado.
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A
normativa não estipula a quantidade de temporários a serem contratados.
Apenas prevê que o número de terceirzados dependerá da disponibilidade
orçamentária e dos resultados esperados pelo gestor, com base nas
determinações da Gerência Nacional do Quadro de Pessoas e Remuneração
(Geper).
Servidores criticam
Segundo a Comissão Executiva dos Empregados da Caixa (CEE Caixa), a medida também é prejudicial aos servidores do banco. "Com esta medida, a direção da Caixa deixa claro que não tem qualquer pudor em precarizar as relações de trabalho na instituição, criando o subemprego, com menores salários e sem qualquer direito", avalia o coordenador da comissão e diretor da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Dionísio Reis.
O
dirigente explica que o RH 037 já está na sua 21ª versão e sempre foi
combatido pelos movimentos sindicais bancários. "Nos anos 1990 e início
dos anos 2000, a Caixa trabalhou com muitos temporários, chegando a uma
ter uma relação meio a meio com os concursados. Com a assinatura de um
Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Ministério Público, conquistada
após diversas ações judiciais do Sindicato contra a terceirização da
atividade-fim, o banco teve de encerrar esse tipo de contratação, que
foi extinto só em 2006, mas manteve o normativo”, diz.
“Sempre
cobramos a revogação do RH 037 em mesas de negociação e, no ano
passado, a Caixa alegou que aguardava a regulamentação do trabalho
terceirizado em lei”, destaca. Segundo Reis, uma assembleia será
realizada no próximo dia 15 para cobrar do banco a extinção do
normativo.
A
publicação preocupa ainda os servidores porque, atualmente, Caixa
executa um plano de demissão voluntária, que até julho, contou com a
adesão de 4.429 empregados. Procurada pelo Correio, a Caixa não se manifestou sobre a norma até a publicação desta matéria.
Novela judicial
O
último concurso da Caixa aconteceu em 2014 para formação de cadastro
reserva das carreiras de técnico bancário, engenheiro e médico do
trabalho. Só esse concurso teve mais de 1 milhão de inscritos na época.
Cerca de 33 mil candidatos haviam sido aprovados para técnico, porém,
apenas 2.501 foram convocados até a data do vencimento do concurso, em
agosto de 2016.
No
entanto, o Ministério Público do Trabalho (MPT) do Distrito Federal
ajuizou uma ação civil pública para que o banco prorrogasse por tempo
indefinido a validade do concurso técnico da Caixa de 2014, para que o
banco tivesse tempo hábil para convocar mais aprovados.
No
Distrito Federal, dos 1.244 aprovados que deveriam assumir os postos,
apenas 242 foram admitidos antes do prazo final do concurso. Thaís
Gonçalves de Carvalho, 34 anos, lamenta não estar entre eles. A
estudante de gestão de recursos humanos recorreu à Justiça pela
nomeação. O processo individual corre na 18ª Vara do Trabalho de
Brasília e ela lembra o desgaste provocado pela situação. “Tirei tempo
para estudar, sacrifiquei momentos com a família e amigos, gastei com
inscrições e materiais. Quando não fui convocada, fiquei frustrada e
magoada, porque é difícil passar ainda tem toda essa dificuldade para
assumir o posto”, conta.
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